Dono de árvore onde detector achou corrente diz que descoberta pode comprovar história de escravidão em MG

  • 07/10/2025
(Foto: Reprodução)
Detector de metais identifica possível corrente da escravidão dentro de árvore centenária O dono da propriedade onde fica a árvore centenária que apita quando avaliada por um detector de metais e pode ter corrente da época da escravidão em Cabo Verde, no Sul de Minas Gerais, diz que a descoberta pode comprovar a história que sempre foi contada na família. 📲 Siga a página do g1 Sul de Minas no Instagram Segundo relatos que passaram de geração para geração, o local era um ponto usado para castigo e venda de escravizados e a corrente utilizada para prender essas pessoas à árvore foi absorvida durante o seu crescimento. "Agora, a história que eu ouvia começa a ter um pouquinho de verdade", diz Daniel Paiva Batista. Ele conta que desde a adolescência escutava do tio e do avô a história da árvore que escondia um pedaço da história escravocrata da região. Segundo seus parentes, a árvore centenária ficava à beira de uma estrada e seria um ponto de "promoção" de escravizados "folgados". “Era um lugar que ficavam os escravos que não rendiam muito no trabalho e eles ficavam à disposição para venda e quem passava na estradinha em frente podia comprar mais barato", conta. LEIA TAMBÉM: Detector de metais identifica possível corrente da escravidão dentro de árvore centenária em MG Paineira centenária em cafezal de Cabo Verde (MG) apita quando avaliada por detector de metal Coletivo Memora O proprietário viu a oportunidade de comprovar a lenda e tomou a iniciativa de procurar a cientista social e doutoranda da Unicamp Lidia Maria Reis Torres e o professor de História Luís Eduardo Oliveira, pesquisador da Unifal, autores de um documentário sobre a história dos negros na cidade. Eles foram até a árvore com um detector de metais e verificaram que, em um ponto específico do tronco, que hoje tem cerca de 3 metros de diâmetro, o equipamento apitava, indicando a presença de metal dentro da paineira (veja vídeo acima). Batista assistiu à descoberta por uma chamada de vídeo. Para os pesquisadores a árvore pode guardar um registro do período de escravidão na cidade de Cabo Verde. "Nós temos um artefato do período em que Cabo Verde era um centro econômico de abastecimento de mão-de-obra escrava, e ele tem características muito sólidas que nos levam a crer que é uma corrente com elos circulares de ferro fundido", afirma Oliveira. A propriedade onde está a árvore pertence à família de Batista desde 1930 e fica no bairro Bom Retiro, na zona rural. Era uma grande fazenda cafeeira que, com o tempo foi sendo dividida entre os familiares e hoje é um sítio alugado como área de lazer ao lado de um cafezal. Segundo Batista, a área é cenário de outras passagens históricas do Brasil. "A família tem muita história. O meu tio gostava de contar, eu ficava limpando piscina e ele ficava sentado comigo conversando e contando história. Ele falava também que tem muita arma da guerra do 'café com leite' enterrada para cá, mas quem é que vai 'cavucar' para achar?", desfia. "Vontade a gente até tem de descobrir." Batista se refere a Revolução Constitucionalista de 1932, iniciada por paulistas que queriam destituir o governo de Getúlio Vargas, militar gaúcho que assumiu a presidência do governo provisório após um golpe de Estado contra o presidente eleito Júlio Prestes, representante da política paulista. Um dos motivos do conflito, que teve batalhas na fronteira do estado de São Paulo com o Sul de Minas, foi a ruptura da política do ‘café com leite’, que era a alternância de poder entre as elites de Minas Gerais e São Paulo praticada na República Velha. Pesquisa mostra importância da oralidade Detector de metais comprova presença de corpo metálico dentro de paineira em Cabo Verde (MG) Coletivo Memora Embora a paineira normalmente viva menos de um século, a bióloga Luciana Botezelli, professora do Instituto de Ciência e Tecnologia do campus de Poços de Caldas da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), explica que há relatos de árvores que sobreviveram por mais tempo. Ela também confirma que certas plantas podem envolver objetos em seus troncos. “Muitas vezes, quando vai havendo o crescimento do tronco, se a árvore vai ficando muito apertada pelo material, ela passa a criar uma estrutura de envolvimento daquilo que está incomodando e retendo o crescimento dela”, diz. O trabalho feito pelos pesquisadores da Unicamp e da Unifal traz indícios de que lenda da família de Batista pode ser real e mostra a importância da oralidade e das histórias transmitidas de geração em geração para manter a memória das comunidades no interior. “A gente não sabe, pode ser que seja um prego, pode ser que seja qualquer coisa, mas acho que essa marca oral de histórias que são repassadas de um período do escravismo é muito significativo", diz Lidia. Cabo Verde é um dos municípios mais antigos da região. Foi fundado em 1762 tendo a produção cafeeira como responsável pela sua relevância econômica na época. Mas tanto Lidia quanto Oliveira encontraram dificuldades documentais para relatar a presença negra na comunidade. "É uma cidade escravocrata e a classe econômica abastada dessa cidade contribuiu para o apagamento desta história. E esse apagamento foi sistematicamente feito para que não tivesse vestígio. É o conceito de institucionalização do esquecimento", afirma Oliveira. Ele defende que o objeto, seja qual ele for, permaneça dentro da árvore, escondido aos olhos, mas coberto de significado. "A gente não deve tirar o artefato porque a árvore da maneira como ela está passa a ser um espaço de memória de Cabo Verde. Se a gente tirar, ela se torna só uma árvore e o artefato se torna só um objeto", afirma. Paineira centenária em cafezal de Cabo Verde (MG) apita quando avaliada por detector de metal e pode guardar uma corrente usada na época da escravidão dentro dela Coletivo Memora Veja mais notícias da região no g1 Sul de Minas

FONTE: https://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2025/10/07/dono-de-arvore-onde-detector-achou-corrente-diz-que-descoberta-pode-comprovar-historia-de-escravidao-em-mg.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

No momento todos os nossos apresentadores estão offline, tente novamente mais tarde, obrigado!

Top 5

top1
1. Raridade

Anderson Freire

top2
2. Advogado Fiel

Bruna Karla

top3
3. Casa do pai

Aline Barros

top4
4. Acalma o meu coração

Anderson Freire

top5
5. Ressuscita-me

Aline Barros

Anunciantes